Família acusa médico residente de negligência após criança ser intubada e protesta em frente a hospital: “Rasgaram minha filha”
Administração do Hospital Pequeno Príncipe confirmou que a menina foi atendida por médico residente e avaliou o quadro dela: “Infelizmente, o quadro é irreversível”
Uma família de Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, protestou em frente ao Hospital Pequeno Príncipe (HPP), neste sábado (30), e acusou um médico residente de negligência após uma criança, de 2 anos, apresentar uma grave piora no quadro de saúde por causa de uma intubação.
Em entrevista à Banda B, em frente à casa hospitalar de Curitiba, o pai da menina, Jonathan Fogaça Almeida, disse que o médico responsável pelo procedimento foi “negligente e imprudente”. De acordo com ele, a filha está em “estado vegetativo”.
“Colocaram um [médico] residente para intubar minha filha e ele rasgou ela por dentro… laringe, faringe, e evoluiu para pneumotórax. Minha filha, hoje, está em estado vegetativo, respira 24 horas por aparelhos”, afirmou o pai.
“Erro médico”
A situação teve início, diz ele, quando a família decidiu levar a criança a um hospital de Quatro Barras devido a uma suspeita de gripe. No entanto, o quadro evoluiu e a menina foi diagnosticada com pneumonia. Apesar da avaliação do panorama, Jonathan afirma que somente receitaram alguns medicamentos e pediram para que levassem a menina para casa.
“Levamos ela para casa e piorou. No outro dia, levamos ela em outro hospital, em Campina Grande Sul, onde foi omitido socorro e nem mediram a temperatura dela. Depois, nos mandaram embora. À noite, levamos ela outra vez na emergência, mas no hospital onde foi diagnosticada a pneumonia, e o médico disse que a médica que atendeu minha filha anteriormente errou e que ela já deveria ter sido internada.”
Foi somente depois da terceira avaliação que a criança foi levada para o Hospital Pequeno Príncipe, disse o pai. No maior hospital exclusivamente pediátrico do Brasil, ela foi colocada no oxigênio e teria apresentado um quadro de melhora. Porém, Jonathan alega que houve um “erro médico” após uma troca de plantonistas.
“Na troca de plantão, foram intubar minha filha e não nos comunicaram sobre. Nisso, tentei entrar na sala, mas me impediram. Colocaram um residente para intubar minha filha e ele rasgou ela por dentro. Agora, ela está se alimentando por sonda, sendo que falava, andava e enxergava”, lamentou o pai.
O protesto deste sábado (30), segundo ele, ocorre devido à falta de diálogo com o HPP. O pai também acusa o hospital de omitir documentos, entre eles o prontuário médico da paciente. Além disso, diz que a filha “está agonizando há sete dias dentro do hospital”.
“O próprio hospital disse que quem fez o procedimento não foi alguém habilitado, que foi um [médico] residente. A médica foi imprudente ao deixar. Estamos com medo que minha filha morra. Quero saber se eles perfuraram o pulmão da minha filha. Quero saber como está a laringe e a faringe dela. Eles mataram o cérebro da minha filha”, concluiu Jonathan.
“Infelizmente, o quadro é irreversível”
Após conversar com o pai da menina, a reportagem da Banda B procurou a administração do Hospital Pequeno Príncipe para entender o quadro de saúde dela e questionar a versão dos gestores em relação às acusações.
Em entrevista à Banda B, também na tarde deste sábado (30), o diretor-técnico do HPP, Donizetti Giamberardino, disse que a garota foi levada para o hospital com insuficiência respiratória na madrugada desta sexta (29). Os níveis de saturação, ou seja, a quantidade de oxigênio que circula pelo sangue, estavam em 85%, o que é considerado baixo.
“Ela foi atendida e colocada em oxigênio por volta das 2h da manhã. Durante o período da madrugada, ela ficou um pouco mais confortável por conta do oxigênio, mas, no início da manhã, já tinha indicação de UTI [Unidade de Terapia Intensiva]”, iniciou o médico especialista em pediatria e nefrologia.
Devido à necessidade de internação em UTI, diz ele, o HPP tentou conseguir uma vaga no Hospital Infantil Waldemar Monastier, em Campo Largo, porém não houve sucesso. Todos os leitos internos estavam ocupados e, então, foi indicada a intubação.
Sobre a acusação do pai da menina em relação ao erro médico, o diretor-técnico disse que houve uma “intercorrência” durante o procedimento: “Ela teve um pneumotórax e pneumomediastino, que é quando o ar escapa do pulmão e faz uma pressão que atrapalha os batimentos cardíacos”.
A menina ainda teve uma parada cardiorrespiratória, de acordo com o médico, e precisou passar por um procedimento de drenagem do tórax, além de ser reanimada após 28 minutos de tentativa.
“Ela conseguiu sobreviver, mas isso deixou sequelas.”
Giamberardino também confirmou que a menina foi atendida por um médico residente, do segundo ano, fase identificada como R2, que propõe ao profissional exercitar conhecimentos em hospitais, ambulatórios e demais locais de plantão.
“Ela foi atendida por um médico residente, do segundo ano, com um médico supervisor ao lado. Vimos que toda a prática médica foi feita, apenas não tivemos o resultado que a maioria das crianças tem”, explicou o médico antes de dizer que “compreende a revolta da família”.
O diretor-técnico do HPP ainda orientou que, caso os pais entendam que houve negligência no atendimento, seja procurado o Conselho Regional de Medicina (CRM).
“Ela tinha indicação de uma intubação, que há risco de morte. Não tinha saída… ou ela morreria. Ninguém esperaria essa intercorrência. Nós temos muito cuidado com isso. A médica que fez a intubação tem 30 anos de experiência”, disse ele, sobre a profissional que teria acompanhado o procedimento.
“Vimos todo o protocolo, mas o pai entende que houve um erro na intubação. Nós compreendemos toda dor e sofrimento dos pais. Estamos fazendo o nosso melhor. Temos sentimento de solidariedade e de apoio.”
Questionado pela Banda B se o quadro da menina é irreversível, o também pediatra afirmou que, após comparações de imagens do cérebro dela, os médicos acreditam que ela tenha sofrido uma atrofia.
“Pela imagens, infelizmente, o quadro é irreversível, porque foram lesões severa. É uma situação muito grave. Queremos estar errados, mas muito provavelmente não estamos”, concluiu.
Nota do Hospital Pequeno Príncipe
Em nota enviada à Banda B, o HPP deu detalhes sobre a internação da criança e negou que tenha omitido informações e documentos da família. Leia a íntegra da nota abaixo:
“Primando pela transparência de informações, o Hospital Pequeno Príncipe confirma o atendimento da paciente L. G. A., desde no dia 29 de abril de 2022, quando deu entrada em estado muito grave, encaminhada pela UPA de seu município de origem. A paciente recebeu alta no dia 8 de junho de 2022, após essa data ela foi atendida outras seis vezes, sendo quatro delas na Pronto Atendimento do SUS e duas em ambulatórios de neurologia e cirurgia vascular. No dia 24 de julho de 2022, a paciente voltou a instituição onde segue internada. Durante todo esse período, os atendimentos continuam a ser realizados por uma equipe multiprofissional nos padrões técnicos recomendados.
Com relação aos questionamentos do pai sobre o atendimento do Hospital, a instituição esclarece que sempre deu acesso às informações, escutou, dialogou e esclareceu todas as dúvidas e segue à disposição da família.
Ciente de seu papel na proteção e na defesa dos direitos de crianças e adolescentes, o Pequeno Príncipe reforça que tem o dever de garantir a segurança e o sigilo do paciente, por essa razão as informações da criança são repassadas apenas para os responsáveis legais.
Com mais de 100 anos de atuação, o Pequeno Príncipe reafirma seu compromisso de promover a saúde infantojuvenil, trabalhando sempre com foco na qualidade, excelência, equidade e humanização no atendimento de crianças e adolescentes de todo país.”