A Sombra do Poder: Um jogo de ameaças

Por Rodini Netto*


Em uma pequena cidade do interior, cuja identidade se perde no anonimato, um evento perturbador começou a moldar o cenário político local. A cidade, pacata em sua rotina diária, estava prestes a ser abalada por uma série de acontecimentos que revelariam o lado mais sombrio do poder.

Dr. Jonas, um respeitado médico da cidade, decidiu, movido por seu senso de justiça e desejo de mudança, se candidatar a vereador nas próximas eleições. Sua reputação como um médico atencioso e competente lhe rendeu o apoio de muitos, mas também a inimizade de alguns, especialmente daqueles que se sentiam ameaçados por sua popularidade crescente.

Em uma manhã nublada, Dr. Jonas foi convocado a uma reunião na Câmara Municipal. Ao chegar, encontrou o Presidente da Câmara, um político veterano conhecido pelo seu temperamento agressivo e pela proximidade com a prefeita da cidade. Sem rodeios, o presidente começou a falar, sua voz impregnada de autoridade e malícia.

“Dr. Jonas, ouvi dizer que você está planejando se candidatar como vereador pela oposição. Um homem inteligente como você deveria pensar nas consequências de suas ações,” disse o presidente, com um sorriso que não chegava aos olhos.

Dr. Jonas, sentindo o peso das palavras, perguntou diretamente: “E quais seriam essas consequências, senhor presidente?”

O sorriso do presidente desapareceu, dando lugar a um olhar frio. “Se o prefeito e eu formos reeleitos, posso garantir que você será afastado da unidade de saúde onde trabalha. Não terá mais lugar aqui, e não será bem-vindo em nenhuma unidade desta cidade.”

Jonas, que sempre prezou pela ética e dedicação ao seu trabalho, ficou chocado. “E isso seria por eu não cumprir bem o meu papel como médico?”

A resposta veio rápida e cortante: “Não tem nada a ver com o seu trabalho. Você sabe muito bem que não deveria se meter onde não é chamado.”

De volta ao seu consultório, Dr. Jonas refletiu sobre a conversa. O peso da ameaça pairava sobre ele como uma nuvem negra. Ele sabia que aquilo era mais do que uma bravata política. Era uma ameaça séria, uma tentativa descarada de intimidação. Ele decidiu que não podia deixar aquilo passar sem resposta. Mas como? Ele era apenas um médico, sem o poder que o presidente da Câmara possuía.

Jonas resolveu buscar orientação com um amigo advogado, especializado em direito eleitoral e administrativo. Ao ouvir a história, o advogado foi direto:

“Jonas, o que o presidente da Câmara fez é gravíssimo. Ele cometeu crimes de ameaça e abuso de autoridade, previstos no Código Penal Brasileiro e na Lei de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/2019).”

Dr. Jonas, surpreso, pediu mais detalhes.

“Primeiro, ele cometeu o crime de ameaça, conforme o Art. 147 do Código Penal, que prevê pena de detenção de um a seis meses ou multa para quem ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, de causar-lhe mal injusto e grave. E no caso, ele usou a posição dele para tentar coagir você a desistir de sua candidatura.”

“O segundo ponto”, continuou o advogado, “é que ele cometeu abuso de autoridade. A Lei 13.869/2019 é clara ao estabelecer que qualquer autoridade que usa seu cargo para prejudicar alguém, especialmente em razão de interesses pessoais, está cometendo um crime. Isso pode resultar em perda do cargo, inabilitação para o exercício de função pública por um período de um a cinco anos, e até mesmo em detenção.”

Dr. Jonas sabia que expor essa situação seria arriscado, mas também sabia que se ficasse calado, estaria permitindo que a injustiça prevalecesse. Ele não podia, em sã consciência, permitir que o poder fosse usado como uma ferramenta de opressão. Decidiu, então, levar o caso ao Ministério Público e à Justiça Eleitoral, com a esperança de que a verdade prevalecesse.

A notícia da denúncia logo se espalhou pela cidade, causando alvoroço entre os habitantes. O presidente da Câmara e a prefeita, antes confiantes de sua reeleição, agora se viam no centro de uma tempestade política que ameaçava desmoronar suas carreiras.

Jonas continuou sua campanha, agora mais determinado do que nunca. Sabia que a estrada à frente seria difícil, mas também sabia que estava lutando por algo maior do que sua candidatura. Estava lutando pelo direito de todos os cidadãos de viverem sem medo de represálias, por um governo que servisse ao povo, e não a si mesmo.

Meses depois, as investigações trouxeram à tona outras práticas abusivas, e o presidente da Câmara foi afastado do cargo. O caso de Dr. Jonas tornou-se um símbolo de resistência contra a corrupção e o abuso de poder, inspirando outros a se levantarem contra as injustiças em suas comunidades.

Embora a história ainda não tenha chegado ao fim, Dr. Jonas sabia que havia dado o primeiro passo em direção a uma cidade mais justa e honesta. Ele aprendeu que, mesmo diante das ameaças mais sombrias, a verdade e a justiça sempre encontrariam seu caminho para a luz.

 


*Aviso: Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas, fatos ou eventos reais é mera coincidência. Os personagens, locais e acontecimentos descritos são frutos da imaginação do autor e não representam, de forma alguma, a realidade.

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