Nem tudo é racismo estrutural ou discriminação xenofóbica

Rodini Netto
O deputado estadual Renato Freitas (PT), questionou, no início da tarde desta quinta-feira (11), a nota oficial emitida pela Polícia Federal, considerando as informações divulgadas como contraditórias.
Em nota, o deputado estadual Renato Freitas afirmou: “Ao contrário do que afirma a nota, o deputado em momento algum se negou a passar pela revista, ainda que seja no mínimo estranho que ele tenha sido o único “escolhido” para tal procedimento durante o embarque. Em todo o momento, Freitas esteve disposto a seguir todas as orientações dos funcionários, como os vídeos demonstram. Além disso, a nota também não menciona as câmeras de segurança do Aeroporto, que poderiam esclarecer o caso.”
Segundo o próprio Freitas, no aeroporto de Foz do Iguaçú, após passar pelo detector de metais e colocar seus pertences na esteira para que fossem verificados pelo scanner, uma agente da Proteção da Aviação Civil (APAC) o interceptou, informando que o deputado havia sido “sorteado” para uma revista minuciosa.
Eu mesmo já passei por esta revista mais minuciosa, pelo menos, duas vezes. É uma intervenção normal em aeroportos internacionais. Passei por isso no Aeroporto de Stansted, Reino Unido, quando retornava para Portugal. Também passei no Brasil, em Guarulhos, prestes a embarcar para Portugal.
Existem aqui duas coisas que precisam ser colocadas a limpo aqui.
A primeira, é que o próprio Renato Freitas afirma que deixou o local onde foi alertado de que passaria pela revista, dirigindo-se para a aeronave. Este ato, em qualquer aeroporto internacional no mundo inteiro, lhe teria rendido mais do que a vergonha passada pela intervenção da Polícia Federal. No Reino Unido, por exemplo, Freitas teria sido preso, e não teria nada a ver com racismo estrutural. Nos Estados Unidos, não teria sido diferente.
A segunda, é o último ponto da Nota: “Racistas otários nos deixem em paz!”
Assim como no caso da invasão da igreja da Ordem, Freitas continua querendo atribuir todas as coisas ao racismo estrutural, como se tudo que se diz respeito a ele fosse provocado por atitudes racistas.
Caramba, deputado. O que eu deveria dizer aos responsáveis pelas duas vezes em que fui “escolhido” para a revista pessoal? Minha esposa também passou pelo mesmo em Madrid. Foi constrangedor. Todas as vezes foram constrangedoras. Mas passamos. Não devíamos nada a ninguém e continuamos a vida. Deveria eu ter alegado xenofobia, por ser brasileiro, na revista de Stansted? Deveria dizer que havia uma perseguição da Comunidade Europeia pelo fato de minha esposa ser revistada, em Madrid, por ser brasileira, mesmo apresentando documento português (ela tem dupla nacionalidade)? Deveria dizer o que à Polícia Federal, em Guarulhos? Simplesmente ignorar os “sorteios” e avançar para a plataforma de embarque e entrar nos aviões?
Também questiono, é verdade, o método como são feitas estas “escolhas aleatórias”. Não são nada claras. Tem mais a ver com a suposição dos agentes do que com um “sorteio”. Pelo menos é o que deixam claras as conversas dos agentes fiscalizadores demonstradas em programas televisivos, tanto no Brasil como no exterior.
Como disse, se Freitas tivesse agido da mesma forma, deixando o local da fiscalização e partindo para o avião, na Europa, no Reino Unido ou nos Estados Unidos, o desfecho da história teria sido muito diferente, e muito mais desagradável. Não só ele. Qualquer pessoa que ignorasse a abordagem destes agentes, e fosse para o avião, teria como destino a prisão.
O que teria acontecido comigo se tivesse ignorado o “convite” do funcionário da APAC para a revista pessoal, em Guarulhos? O que teria acontecido com minha esposa em Madrid, se tivesse ignorado a funcionária que a encaminhou para a revista pessoal? E, mais uma vez, o que teria acontecido comigo, se tivesse ignorado a “ordem” do funcionário do aeroporto de Stansted, no Reino Unido?
Nem tudo na vida é racismo estrutural ou discriminação xenofóbica, apesar de muitas vezes parecerem.
Ficam alguns questionamentos:  Se fosse um imigrante ilegal, para onde iria? Se fosse qualquer cidadão comum, o que teria feito a Polícia Federal? Freitas não foi detido porque é deputado estadual? E aqui não estamos falando de racismo estrutural e muito menos de discriminação xenofóbica, mas sim do fato de o deputado, preocupado com o seu voo, ter ignorado a intervenção da agente da APAC que já lhe havia informado que passaria pela revista pessoal, e partido para o seu avião.
Na terça, passo no gabinete para tomar um café…
Enfim, leia a nota oficial do deputado, que publicamos abaixo, na íntegra:
“NOTA OFICIAL SOBRE A ABORDAGEM NO AEROPORTO DE FOZ DO IGUAÇU: Diante da repercussão do vídeo divulgado na noite de ontem (10/05) acerca de uma abordagem da Polícia Federal no aeroporto de Foz do Iguaçu, o mandato do deputado estadual Renato Freitas vem prestar esclarecimentos. Primeiramente, informamos que tal situação ocorreu na noite do dia 3 de maio de 2023. Na ocasião, o deputado embarcava para Curitiba, após cumprir agenda na Itaipu Binacional a convite do Ministério dos Povos Indígenas. Na mesma viagem, o deputado também prestou solidariedade à família de Ismael Flores, jovem assassinado pela Polícia Militar em Foz do Iguaçu no dia 28 de abril. Após cumprir sua agenda na cidade, o deputado se dirigiu ao aeroporto. Ao embarcar, passou pelo detector de metais e seus pertences pelo scanner de bagagem, normalmente, assim como os demais passageiros. Depois, no entanto, uma Agente de Proteção da Aviação Civil (APAC) o interceptou, dizendo que, além de passar pelos aparelhos, ele teria sido “sorteado” para uma revista minuciosa. Apesar de não ter sido utilizado o equipamento sorteador, Freitas atendeu prontamente, sem nenhuma resistência. Por conta do embarque estar sendo encerrado, o deputado pediu à funcionária que avisasse a companhia aérea que ele logo chegaria, para que não perdesse o voo. Em resposta, a funcionária disse que não poderia realizar o pedido e se retirou. Freitas, então, na presença de outros funcionários, reafirmou que poderiam seguir com a revista nele e nos seus pertences. Como não houve interesse da revista por parte dos funcionários que estavam ali, Renato seguiu para o avião, onde minutos depois foi surpreendido pela Polícia Federal, acompanhada justamente de um dos funcionários que já haviam se negado em fazer a revista no scanner de bagagem. O funcionário, inclusive, admitiu, diante da PF, e da gravação que Freitas fez pelo celular, que o deputado havia permitido a revista no momento do embarque. Nesse sentido, consideramos contraditórias as informações divulgadas na nota emitida pela Polícia Federal de Foz do Iguaçu na noite de ontem (10/05). Ao contrário do que afirma a nota, o deputado em momento algum se negou a passar pela revista, ainda que seja no mínimo estranho que ele tenha sido o único “escolhido” para tal procedimento durante o embarque. Em todo o momento, Freitas esteve disposto a seguir todas as orientações dos funcionários, como os vídeos demonstram. Além disso, a nota também não menciona as câmeras de segurança do Aeroporto, que poderiam esclarecer o caso. Por fim, ressaltamos que a maior responsabilidade pelo constrangimento passado pelo deputado não é da Polícia Federal, que agiu após ser acionada pelos Agentes de Proteção da Aviação Civil. Estes sim devem ser responsabilizados por, mesmo sem qualquer indício, terem enxergado Renato como um potencial criminoso, além de não terem seguido os procedimentos aos quais o deputado não se negou. Esperamos que as filmagens do circuito interno de monitoramento do Aeroporto venham à público, a fim de elucidar qualquer dúvida que se tenha sobre o ocorrido. Racistas otários nos deixem em paz! Gabinete do deputado estadual Renato Freitas Curitiba, 11 de maio de 2023.”

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